ANO X - N°
277, em 20 de julho de 2011.
Versão
FRIO
Sentia muito frio enquanto a bola de neve se derretia em minhas mãos. Quando a
fazia rolar por sobre a neve, ela crescia a ponto de me permitir sentar sobre
ela. Mirava minha casa, lá, onde também fazia frio desde quando despertava, com
as vidraças do meu quarto cobertas de gelo. Minha respiração e minha fala se
materializavam em pleno ar em pequenas nuvens de vida breve. Também sentia frio
nos braços ao carregar blocos de neve para esculpir o tronco do boneco de neve.
Meus dedos do pé queimavam dentro das botas de inverno quando minha mãe me
chamava para me proteger um pouco do frio.
De volta a casa, sentia o frio de suas mãos que estavam a lavar e a descascar
batatas na água fria da pia ao afagar-me as faces e beijar minhas bochechas
frias e a ponta fria do meu nariz.
Mas nada tão frio como o que senti numa noite de fevereiro ao entrar na capela
do velório, onde minha mãe jazia, nem jovem, nem velha, quando, ao beijar sua
fronte meus lábios sentiram o verdadeiro significado do frio.
Versão livre do poema, não
obstante totalmente presa à poesia da escocesa Carol Ann-Duffy.