ANO VIII - Nº. 245, em 10 de abril de
2010.
Prosa poética
O FADO DE
FAUSTO
Antes tarde
do que nunca veio-me às mãos e às vistas, de Goethe, o poema
épico-fantástico-delirante, estuário de lendas medievais e de outros escritos
preliminares.
Li-lo em
nosso idioma, simultaneamente em duas traduções: uma brasileira, outra lusitana.
Com aquela, fazia os primeiros contatos com a história, quadro a quadro; com
esta, confirmava-a e aclarava o entendimento, e enchia-me de prazer e beleza o
linguajar castiço empregado.
Fausto é
descendente de Adão de Barros e de Eva da Costa, no chiste do tradutor
português, senão símbolo mesmo das próprias criaturas emblemáticas do Criador.
Assim,
Fausto, desde o gênesis – criativista ou evolucionista –, existe e existirá
enquanto existir o gênero humano, e, existindo, porque humano, se perderá, na
procura ansiosa pelo sentido para a vida.
Salvação e
redenção sempre buscadas no plano divino, no terreno (o amor de Margarida ou de
Dulcineia?) ou, no caso do poema, nos subterrâneos fantasmagóricos do Hades.
A grande
procura talvez tenha começado na Grécia, com os conceitos filosóficos de ética e
beleza helênicas. Depois, Cristo anunciou as bases de uma nova era, desvirtuadas
pelas religiões e suas igrejas.
A ciência
sempre limitada no seu escopo, então muito mais ainda, não dava conta da procura
ansiosa do conhecimento e da verdade. Outras vertentes foram utilizadas: o
misticismo e mesmo a feitiçaria.
Depois do
obscurantismo medieval, surge a aurora de um intelectualismo alvissareiro: o
iluminismo racional.
Fim do
primeiro ato da tragédia humana.
Quando o pano
volta a se abrir, descortina-se o reino de Mamon, embalado pela economia, pela
política e pelo advento do capitalismo. Guerras, colonialismo e imperialismo
viabilizados pelo vertiginoso avanço tecnológico.
Os
contrapontos do comunismo e do socialismo foram vencidos. Com eles a esperança
acalentada por alguns espíritos românticos e altruístas.
Mefistófeles
diabólico sempre esteve presente, assessorando, monitorando e viabilizando a
evolução de Fausto, sua necessidade de afirmação, de sabedoria, de bem-viver, de
felicidade, de riqueza e de poder.
A alma lhe
foi dada em fiança para tal progresso. É chegada a hora da cobrança: o
apocalipse da degradação ambiental.
Os ingênuos
pregam: ainda há tempo irmão! Os céticos, ao analisar a vida pregressa de
Fausto, acreditam na maldição da lenda e do poema.
E dizer que a
ficção poética é irreal! Qual o quê! A objetividade concreta é cega. A
subjetividade artística clarividente.