JORNALEGO
ANO VI - Nº. 189, em 20 de
abril de 2008.
Poema
EXISTENCIALISMO CABOCLO
Donkovim
De onde que eu
vim?
Vim de tempos e
terras distantes,
Nas caravelas
desbravadoras e
Nos navios dos
imigrantes.
Dos ibéricos
lusitanos e espanhóis e,
Nessa linhagem,
dizem, de um ilhéu irlandês.
Do convívio com
costumes indígenas, caboclos e afros:
Comida, música,
ginga e estoicismo
Dessas bravas
gentes.
Vim no sangue, nos
neurônios, nos DNAs
De tantas gerações
Em seus
espermatozóides, óvulos e úteros.
Nasci do amor e do
desejo
De uma mulher e de
um homem,
No correr da
natureza,
Nas correntezas da
evolução,
No profundo
mistério
Do humano
desaguadouro.
Eis-me, pois, em
corpo e mente masculinos,
Na aleatoriedade
dos sexos.
Onkotô
Onde que eu
estou?
Aqui onde nasci
me quedei.
Por mais longe
que vá, pertenço a este chão,
Incrustado que
está em mim.
Aqui vou morrer,
daqui não saio mais.
Na imensidão da
Terra Brasilis,
Na América do
Sul, da América Latina.
Não pertenço nem
louvo outras plagas,
Por mais que o
canto das sereias me seduza.
Fui/sou feliz no
tempo e no espaço
No quando/onde
vivi/vivo.
Amei/amo o amor
singular e seu plural humanista.
O tempo passa,
estou/sou velho.
Espero sem
desejo, sem ânsias e sem pressa,
A derradeira
verdade de nosso comum destino.
De herança, deixo
a prole;
Algumas memórias,
sonhos vãos
Que no ar vão se
desmanchar.
Meu século é o
passado; atônito, vejo passar o presente.
Então, eu era
jovem e esperançoso.
Foram-se as
fantasias, o romantismo, o idealismo religioso,
Que um dia
povoaram minha mente.
O artístico e o
poético suprem/superam o fantástico.
Sei o que não é.
Não sei o que é.
Mistério!
Pronkovô
Para onde que eu vou?
Para a terra, do pó de onde vim, é pra lá que volto.
Ou que seja aspergido em cinzas sobre a Terra.
Sem rezas, sem encomendas póstumas,
Sem mais escapismos.
Sem túmulo, sem flores
Nos dias tristes de finados.
Vou para a memória temporária,
Para o esquecimento dos tempos.
Espero que não faça(m) alarde.
Vou cheio de incertezas,
E muito a contragosto,
Com vontade de ficar pouco mais,
Na certeza de nunca mais voltar.
Ao fim e ao cabo, como fora antes do começo,
À perfeição: o nada, o silêncio.
Obs.:
Os subtítulos são exemplos do linguajar popular das Minas Gerais.