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Nº 341: 1930-1946-1964-1988 - I
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Nº 339:Discurso de Despedida
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Nº 337: Francisco
Nº 336: Economia Política
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JORNALEGO

ANO VI - Nº. 163, em 30 de junho de 2007

 

Crônica

 

INFÂNCIA

 

            Foi ontem de noitinha quando o Dito morreu novamente. Fui dormir sentido, pensativo e sonhei com ele. Acordei inusitadamente às quatro da manhã, passei um’agüinha nusóio pra mode lê o finzim da primeira parte do Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa, numa linda edição comemorativa do qüinquagésimo ano de sua publicação, belo presente que ganhei na passagem do meu aniversário. 

            Faz uns cinco anos que conheci Miguilim, num livro que levava o seu nome em parelha com o de Manuelzão. Agora, releio sua história, como personagem de Campo Geral, primeiro “poema” do conjunto da obra Rosiana. Como foi triste reviver a dor da morte do Dito e o sofrimento do seu irmão mais velho, Miguilim! 

            O dia estava raiando quando terminei a releitura do romance, coroando a emoção da morte do Dito com o seu desfecho. Miguilim foi um dos personagens mais marcantes na minha vida de leitor. Mais do que o seu colega de edição, Manuelzão, e do que Riobaldo e Diadorim. A propósito destes últimos, penso que o Rosa quis narrar um amor homossexual no grande sertão, e, por pudicícia, revelou, ao final da história, ao parceiro e aos leitores, que Diadorim era mulher. Isso me ocorreu depois de assistir ao filme O Segredo de Brokeback Mountain que conta um caso de amor homossexual no far-west americano. 

            Embora eu já tivesse esquecido certos detalhes da primeira cena daquele bailado, como também de outro livro que tem como tema a tenra idade, tais histórias não me saíram mais da cabeça. A outra leitura a que me refiro é Infância de Graciliano Ramos. Presumivelmente uma ficção autobiográfica. Curiosamente, li-los, no estilo Machadiano, em duas das várias viagens que fiz a Rio Branco, na ansiosa espera do nascimento dos netos acreanos. 

            Devia fazer parte do currículo de um eventual curso para pais, em continuação aos ensinamentos para o parto, a leitura obrigatória desses dois textos. O mundo da infância é um mundo mágico completamente diferente do mundo em que vivem os adultos. Ele tem seu próprio movimento de rotação, até a criança se soltar, se perder e se achar, nas voltas da roda-viva da vida. 

“Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma” (JGR). 

Numa entrevista televisiva assistida recentemente, uma médica aconselhava aos pais alimentar bem, cuidar da saúde, preocupar-se com a educação, dar carinho a seus filhos e calar a boca. Esta expressão final representa uma crítica ao monte de besteiras, repreensões, exigências, cobranças, explicações e que tais, que os pais, no intuito de seus filhos serem adultos bem-sucedidos, enchem a cabeça, o tempo e a paciência deles, aumentando-lhes a ansiedade e a confusão mental. Às vezes traumatizando a garotada. Os pais querem que seus descendentes sejam tudo o que eles não foram, o que, seguramente, é o pior caminho para conseguirem o que chamam de sucesso, ou seja: chegar lá, ser um winner, ou outras parlapatices da moda. 

Dos textos aludidos sobressai, além da poética dos personagens miúdos, a intolerância dos pais, especialmente do macho ou do machismo também incutido nas mães, principalmente pela ignorância deles, no livro, isolados nas lonjuras dos sertões brasileiros e mais longe ainda do conhecimento da psicologia infantil. A coisa melhorou bastante nos últimos tempos, mas ainda não o suficiente. Se o antanho levou o atraso, a modernidade trouxe novos problemas. 

A grandeza da infância parece que cresce à medida que a gente se distancia dela, seja pela velhice chegando, seja pelos netos rebentando. Acredito que os avós têm uma visão senão mais apurada, pelo menos mais tolerante, da infância, do que os pais. Isso não os exime de qualquer influência maléfica que tenham cometido como pais e venham a cometer, na sua convivência com os pequenos, enquanto avós presentes e ativos. Enfim, a relação é complexa e delicada. 

Tenho uma amiga que toda vez que vê um bebê, sem falar, sem andar, sem vontades explícitas, morre de pena deles, pelo seu estado de dependência, totalmente à mercê de adultos que, às vezes não estão preparados para lidar com essa situação. Escrevo isso, embora, ultimamente, tenha testemunhado comportamentos exemplares de jovens pais. 

Como este número se bastou pequeno, sugiro, para terminar, a releitura (?) do também pequeno conto O Mundo Encantado da Infância, de 30 de outubro de 2002, no site do JORNALEGO, clicando no atalho:

http://www.ecen.com/jornalego/no_19_o_mundo_encantado_da_infancia.htm

 

 

Genserico Encarnação Júnior, 68.

Itapoã, Vila Velha (ES)

jornalego@terra.com.br

http://www.ecen.com/jornalego

 

 

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