Jornalego

 

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Nº 350: Bakhtin etc.
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Nº 341: 1930-1946-1964-1988 - I
Nº 340: Especulações Conceituais
Nº 339:Discurso de Despedida
Nº 338: Plebiscitando-me
Nº 337: Francisco
Nº 336: Economia Política
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 ANO X - N° 294, em 20 de fevereiro de 2012.

Crônica

 

A SÉTIMA ARTE 

 

            Antes de a presente sessão do Jornalego começar, lembro-me de uma aula de português no antigo Colégio Estadual do Espírito Santo. Dizia o preclaro professor que, antigamente, logo depois de a invenção dos irmãos Lumière ser apresentada à sociedade parisiense, o novo fenômeno era conhecido no Brasil por cinematógrafo; depois, como esse nome era muito grande, quase impronunciável, foi diminuído e popularizado para cinema; logo depois, algumas casas de projeção adotaram o cine; chegará uma época em que o chamaremos de ci

            Pelo ci ou pelo não, sou um grande frequentador e admirador da chamada sétima arte. Sempre fui. É uma arte popular, de grande disponibilidade, barata (principalmente para idosos), uma mistura maravilhosa de imagem, som, música, fotografia, literatura, teatro etc. Enfim, a cortejada cultura. 

            Por mais que tenha a concorrência da televisão e especialmente das modernas facilidades domésticas como as grandes telas, os home theaters, filmes em profusão, DVDs, Blue Rays e outras milongas mais, o cinema, propriamente dito, está em grande evolução. A minha relação com esse admirável mundo novo é problemática: não consigo assistir a filmes na telinha, pois durmo na frente da tevê. Sou fanático mesmo pelo chamado cinema de rua. Agora muito mais confinado aos ambientes dos shoppings. Aquele cinema para ir ao qual a gente se prepara para sair de casa, se adentra numa sala escura de projeção, preferencialmente sem pipoca nem Coca-cola, em que passa duas horas sem interrupção e, depois, acompanhado da mulher e/ou de amigos, com quem eventualmente se combina a ida juntos ao cinema, vai comer uma pizza, analisando e discutindo o que foi visto. Cinema na tela grande ou como também dizem, cinema no cinema, é um ato social. Ver cinema em casa é diversão ligeira, digestiva. Assistir a um filme, na sala grande, é como participar de um ofício religioso, com sua liturgia própria: começa-se em casa brigando com a mulher para que ela não se atrase; a seguir, na sala de projeção, celulares desligados, nada de conversas, sem comentários sobre o que está sendo visto na tela, silêncio profundo como quando se assiste a um recital sinfônico. Isso é o ideal, não necessariamente o que ocorre. 

            Ultimamente tenho visto filmes maravilhosos, a safra é ótima. Um dos meus irmãos comenta que os filmes a que eu assisto sempre são maravilhosos. Lógico, eu os escolho a dedo. Vejam só a colheita nesta virada de ano: Um Conto Chinês (argentino), A Pele em que Habito (um Almodóvar, portanto, espanhol), A Árvore do Amor (chinês), O Último Dançarino de Mao (australiano), O Dia em que Eu não Nasci (alemão-argentino), Medianeiras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual (argentino, por supuesto), e Borboletas Negras (alemão-holandês e africano do sul). 

            O cinema brasileiro também está ótimo: O Palhaço, Meu País e o admirável documentário, fora do comum, As Canções, de Eduardo Coutinho. 

            Por outro lado detestei o último Sherlock Holmes e As Aventuras de Tintim. Ambos americanos. Quanto ao primeiro eu não entendi nada. No segundo, de Steven Spielberg, o Tintim foi americanalhado. Tintin (que eu conheci pronunciando Tantan, nas aulas de francês) perdeu a sua áurea original. O cinema americano está muito veloz e violento, como os dois filmes citados. Não que os americanos não façam bons filmes. Mas a grande produção para consumo de massa é horrível. Aguardo com ansiedade os concorrentes ao Oscar, que geralmente são muito bons. Ah! Por falar nessa estatueta, lembrei-me do Meia-Noite em Paris, do Woody Allen: soberbo! Seria uma injustiça não o citar aqui, entre os melhores filmes vistos recentemente. Mais um destaque de filme americano: Os Descendentes que concorre ao Oscar de melhor filme deste ano. Bom também é o cinema iraniano: assisti mais recentemente a A Separação, que está cotado a ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro. 

            Vou poupar o leitor de resenhá-los. 

            Já dizia um amigo irreverente que “fora da sacanagem não existe salvação”. Eu uso um derivativo: “fora da arte não existe salvação” (o que não exclui evidentemente, a sacanagem, mas sim a vulgaridade e a pornografia). Parafraseando um dito religioso muito em moda eu digo também: “só a arte salva”. Além dela, meu computador também. E cinema, como já rotulado, é uma arte, a sétima; não sei precisar bem o quem vem antes nem depois. 

            Um bocadinho de autoajuda não faz mal a ninguém: eu não sei o que a maioria dos colegas aposentados faz para viver o tempo sem cinema. Talvez eles vivam a matar o tempo. Cinema, muito cinema; literatura, muita literatura; e música, muita música é o que aconselho.  

            Um registro: no Rio, a audiência das sessões vespertinas é composta basicamente de cabeças brancas. Ficam lotadas. Aqui, na Grande Vitória, são poucos os cabelos grisalhos nas salas de projeção. No Cine Metrópolis, da Universidade Federal, e mesmo nos Cines Jardins eu já assisti filmes com três pessoas na sala. Naquele cinema é muito comum a rala audiência, principalmente a vespertina. Lá há um bom estacionamento grátis, e o idoso paga, no meio da semana, o irrisório preço de R$ 3. Nos Jardins a entrada custa R$ 5. Aproximando-se os finais de semana são adicionados R$ 1 ou R$ 2 a esses valores. Mas o problema não é bem esse, é preguiça mesmo. 

            Um pouco de história: quando voltei para o Espírito Santo, em 1997, depois de 32 anos vivendo alhures, Vitória tinha somente dois locais de cinema: o já citado Cine Metrópolis (desde 1992) e três salas no Shopping Vitória (inaugurado em 1993). Atualmente conta com dezenas, principalmente nessas catedrais de consumo e alimentação, os padronizados shoppings. Sou levado a acreditar que, antes daquelas datas, na virada das décadas de 80 para a de 90, não existiam cinemas em Vitória. Como um aposentado cinéfilo poderia viver naquela cidade, àquela época? Creio que isso não foi exclusividade de Vitória; nas demais capitais, com exceção do Rio, São Paulo e Brasília talvez tenha ocorrido o mesmo fenômeno. 

Voltando a Vitória, possivelmente, antes de virar igreja evangélica, o Cine Santa Cecília talvez pudesse ainda existir naquela época como exibidor de filmes exclusivamente pornôs. O Cine São Luis também virou igreja. De vez em quando, eu assistia a alguns filmes num cineminha bem humilde, no bairro da Glória, em Vila Velha, onde passei a residir. Era o Cine-Teatro Garoto, que se finou quando a fábrica de chocolate foi comprada pela Nestlé.  Segundo o historiador Tatagiba, a capital do Estado já teve 13 salas de projeção no seu auge. Em 1985 (último ano de sua pesquisa) estavam reduzidas a somente quatro. Em 1990, acredito que tenha chegado a zero, conforme minhas especulações. 

            Curiosidades: no tempo das sessões contínuas, em Vitória, era comum o espectador entrar no meio do filme, assistir ao seu final e, depois, ao seu início na sessão seguinte. Isso me lembra um famoso cineasta francês que respondendo à pergunta: se um filme precisa ter início, meio e fim, disse: – “Sim, mas não necessariamente nessa ordem”. Quando criança eu nunca assistia a uma única sessão. Sempre eram duas. Nas matinês infantis, quando a luz do cinema apagava era uma gritaria ensurdecedora misturada com palmas em profusão da garotada excitada. Eu lá! Lembram-se dos piadistas do escurinho! Gritavam “gol” quando os artistas se beijavam ou numa cena mais ousada lançavam suas graças, que o povo acolhia com estrondosas gargalhadas. Por falar nisso, foi no Cine Jandaia, que assisti a grandes cenas de nudez. A mulher que mais me sensibilizou (e põe sensibilidade nisso) foi Martine Carol. Ainda tenho nítida a imagem da parte posterior do seu joelho, onde sua perna se articulava com a coxa. Outra mulher sensual era a italiana Rosana Podestá, a Helena de Helena, a Rainha de Tróia.  A cena da Lollobrigida entrando nua numa piscina ficou indelevelmente marcada na minha memória e nas minhas entranhas. E mais: Brigitte Bardot, Marilyn Monroe! Eram as mulheres da minha vida de então! Virtualmente, eu era muito bem servido! 

            Outro registro: também no Rio, fiquei sabendo que a municipalidade vem ressuscitando, nos bairros da zona norte, os chamados cinemas de rua. Alvíssaras! 

 

Genserico Encarnação Júnior, 72 anos.

Itapoã, Vila Velha (ES).

jornalego@terra.com.br

www.ecen.com/jornalego

 

 

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