Economia & Energia
Ano I - No 5
Nov/Dez 1997

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Edição Gráfica:

MAK
Editoração Eletrônica

marcos@rio-point.com
Revisado:
Thursday, 20 November 2003.

Reservas Internacionais
Parte 1
Parte 2

.

Reservas Internacionais: Causa ou Solução da Atual Crise Econômica no Brasil.

Carlos Feu Alvim(*)
feu@ecen.com
 

Defender o Real contra a investida dos especuladores sobre as reservas internacionais brasileiras tem sido a justificativa maior das duras medidas econômicas a que vem sendo anunciadas para a economia brasileira neste Novembro de 1997.

 No número anterior da e&e, antes de se desencadear a atual crise nas bolsas internacionais e o ataque às reservas brasileiras, chamamos a atenção da vulnerabilidade da política de intervenção no câmbio e nos juros. Também publicamos - sem comentários - a evolução da dívida pública brasileira que mais que dobrou nos últimos 5 anos e se constituía como um dos mais relevantes indicadores da economia brasileira.

 Temos procurado adotar como metodologia analisar, mesmo os problemas emergentes, dentro da perspectiva histórica de cada parâmetro da economia brasileira e, quando possível, de uma maneira comparativa com outros países. Entendemos que esse cuidado pode evitar a precipitação de uma análise excessivamente influenciada pelo momento e seus modismos. Entretanto, para que essa análise tenha alguma utilidade para o momento presente é necessário seja oportuna e, para isso tem que limitar-se ao material anteriormente elaborado e atualizado. É dentro dessas limitações que estamos apresentando este primeiro trabalho analisando a presente conjuntura.

 Vale para isso o trabalho que fizemos anteriormente na elaboração do livro Brasil: O crescimento Possível - Editora Bertrand do Brasil 1996 e anteriormente dentro do Governo Federal e ainda a preciosa coleção de estatísticas atualizadas sobre a economia brasileira notadamente as do IBGE e as do Banco Central do Brasil.

 O Montante da Reserva

As reservas brasileiras chegaram a superar os 60 bilhões de dólares e são constituídas principalmente de haveres de curto de prazo junto a instituições financeiras internacionais (83%). Do ponto de vista comparativo com países do primeiro mundo elas são excepcionalmente elevadas como mostra o gráfico abaixo. Elas são, em termos relativos, da mesma ordem de grandeza de países em desenvolvimento que adotaram um modelo de economia aberta e câmbio livre. As reservas passaram a ser, justamente, o instrumento de garantia dos capitais externos atraídos para um país da convertibilidade de sua moeda.

 O Banco Central do Brasil publica regularmente dados do Fundo Monetário Internacional - FMI que possibilitam acompanhar a evolução das reservas internacionais de um conjunto de países que inclui as maiores economias do mundo e exemplos significativos das economias emergentes entre as quais as dos principais países da América Latina. A Figura 1 permite verificar que entre esses países nossas reservas só eram superadas em números absolutos, em Julho deste ano, pelas das três maiores economias mundiais Alemanha, Japão e EUA, sendo que a reserva do Brasil era 76% da dos EUA cuja economia é cerca de dez vezes maior que a brasileira. Em números relativos ao PIB ela estava, entre as três maiores dos países da amostra.

Figura 1

No que concerne a sua evolução histórica vemos no gráfico seguinte que no ano de 1992 houve um aumento expressivo das reservas que até então eram da ordem de 8 bilhões de dólares americanos e pularam para cerca de 60 US$bi em quatro anos.

Figura 2

Em termos de indicadores da reserva é habitual compará-la com o montante mensal de importações. Esta comparação fazia mais sentido quando a reserva era usada como garantida da capacidade de pagamento das importações. Na atual situação seria mais útil compará-la com o montante de investimentos externos nas bolsas e em títulos no país e até com os investimentos diretos acumulados. Também parece útil compará-la com o Produto Interno Bruto como fizemos na Figura anterior. A Figura seguinte mostra o comportamento dos parâmetros reserva/importação mensal, expressa em meses de importação, e reserva como percentual do PIB.

Figura 3

Pode-se notar que, ao fazer coincidir nas duas escalas usadas na figura acima. 6% do PIB e 12 meses de importação, as curvas praticamente se sobrepoem já que o valor anual das importações brasileiras tem oscilado em torno 6% do PIB nos trinta últimos anos. Nos últimos dois anos as importações têm superado este valor e as curvas se separam.

O aumento relativo do valor das reservas no início da década de noventa, em contraste com o do final da década de oitenta, antecede ao Plano Real mas faz parte da política de abertura e de maior liberdade de câmbio. Na verdade substituiu-se uma política de câmbio arbitrado diretamente pelo Governo e de tolerância do mercado paralelo - que chegou a ter valores superiores ao dobro do oficial - por uma política em que o Governo passou a controlar o câmbio pela venda ou compra de dólares no mercado. Neste sentido o Brasil apenas passou a fazer o que outros países, em atuação individual ou conjunta, praticam para defesa de suas moedas.

A volatilidade dos capitais que afluíram ao Brasil e a pouca tradição de moeda estável e conversível explicam a maior condicionamento da confiabilidade da moeda a um volume de reservas que muitos consideram excessivo. Vale lembrar ainda que o volume de reserva com uma política de câmbio estável passa a depender da taxa de juros que também é usada para regular o mercado interno. Ao se dispor de apenas um instrumento para regular dois parâmetros diferentes pode-se chegar a reservas superiores às realmente desejáveis. Em todo caso, pode-se ver na Figura 1 que o nível da reserva brasileira em relação ao PIB é semelhante ao praticado pelo México e pela Argentina que têm políticas semelhantes. Por outro lado, quando a política de câmbio foi utilizada ela o foi no sentido de valorizar o real em relação ao dólar aumentando os rendimentos em dólar dos aplicadores. Isto indicaria que a política de juros estava dirigida para o mercado externo o que parece válido principalmente na fixação do câmbio nos primeiros meses do Plano Real. Nos meses seguintes o câmbio foi usado como âncora do Plano e é natural que ele não acompanhasse a inflação residual.

Continuação